Conclusões

 

A execução da fase experimental através da realização de vinte e oito sessões experimentais pré-definidas e estabelecidas relativamente a metodologias de captação dos dados biométricos e métodos de indução emocional resultou num vasto conjunto de dados provenientes de três dispositivos biométricos.

A partir do conjunto de imagens seleccionadas para as sessões experimentais e com base na sua representação no espaço afectivo, foi concluído que a melhor forma de analisar separadamente os estados emocionais de alegria e tristeza seria através da selecção de imagens com valores baixos de excitamento, valores esses que foram determinados para que o excitamento interviesse o menos possível com a afectividade. Desta forma obtiveram-se três categorias de imagens distintas, cada uma associada a um estado emocional bem definido, a tristeza, a alegria e o estado neutro. Esta conclusão permitiu dissociar de forma clara sentimentos como alegria e excitamento ou tristeza e medo/raiva.

A consequente aplicação dos métodos de indução emocional através das sessões experimentais desenvolvidas foi sucedida de uma análise dos dados biométricos brutos. A partir da análise dos dados obtidos pelo electroencefalograma conclui-se que as ondas cerebrais de baixa frequência, as ondas Delta, Teta e Alfa não apresentaram qualquer tipo de comportamento padrão com a variação do estado emocional do sujeito. Adicionalmente, a presença de uma actividade cerebral muito irregular e com oscilações das amplitudes das ondas muito superiores ao seu valor médio levou à conclusão que, a partir da análise realizada com o electroencefalograma, as ondas de baixa frequência não trazem qualquer informação útil relativa à transição de estados emocionais no sujeito pelo que as ondas de alta frequência são as que estão mais fortemente associadas às emoções humanas.

O desenvolvimento e a aplicação das várias metodologias abordadas ao longo do capítulo 5 foram cruciais para a interpretação dos dados biométricos capturados. Foram adoptados três dispositivos biométricos distintos, pelo que a análise dos dados incidiu em três estratégias. No que concerne aos dados referentes à actividade cerebral eléctrica, os dados captados pelo electroencefalograma, a aplicação da decimação e médias ponderadas com vista a suavizar os picos e alterações bruscas da amplitude destes mesmos sinais permitiu uma análise visual mais detalhada, análise esta que serviu de apoio à hipótese teste apresentada. Partindo desse mesma hipótese, foram analisados os dados de todas as sessões experimentais no sentido de a comprovar. Essa hipótese indica que a variação média da amplitude, dividida pelas três fases da sessão experimental (a alegria, o estado neutro e a tristeza) é decrescente deste a fase de alegria, passando pelo estado neutro e finalizando no estado de tristeza. A validação desta hipótese através das sessões experimentais executadas ao longo deste trabalho levou à conclusão de que este comportamento é um comportamento característico das ondas de alta frequência da actividade cerebral eléctrica quando o sujeito é induzido emocionalmente através de conteúdos multimédia que respeitem os padrões e valores de afectividade e excitamento dos que foram testados neste trabalho.

Ainda relativamente aos dados biométricos associados à actividade cerebral eléctrica, foi concluído que os sujeitos do sexo feminino têm um comportamento emocional diferente dos sujeitos de sexo masculino. O conteúdo multimédia apresentado aos sujeitos é constituído por sessenta imagens, no entanto essas imagens estão adaptadas ao público-alvo a que vão ser expostas, isto é, dependendo se o sujeito teste é do sexo masculino ou feminino algumas das imagens apresentadas são distintas. É contudo importante salientar que esta distinção é caracterizada pelo facto de que a interpretação das imagens é feita de acordo com o sexo do sujeito, não obstante o valor da afectividade ser semelhante. Desta forma, e como resultado da análise aos dados biométricos obtidos a partir do electroencefalograma, a amplitude média das ondas de alta frequência, Beta e Gama, ao longo de toda a sessão experimental é superior para o caso dos sujeitos do sexo feminino, o que levou a concluir que o sexo feminino é emocionalmente mais activo que o masculino.

O batimento cardíaco, medido através do oxímetro, não relevou alterações significativas ao longo da sessão experimental. Esta conclusão não implica de modo algum a incorrecta utilização deste dispositivo ou a sua inadequação às medições pretendidas, mas sim um conteúdo multimédia que não foi suficientemente forte para se registarem alterações do batimento cardíaco. É também importante referir que, a partir dos dispositivos biométricos utilizados ao longo deste trabalho experimental, a adequação dos conteúdos multimédia de forma a serem registadas alterações significativas no batimento cardíaco causariam demasiadas interferências e variações bruscas da amplitude das ondas cerebrais dado que o electroencefalograma tem uma resolução muito limitada e é constituído apenas por um eléctrodo activo. Essas variações iriam tornar imperceptível o comportamento tipo determinado para a actividade cerebral eléctrica, tornando demasiadamente complexa a tarefa da classificação emocional com base nos dispositivos biométricos e técnicas de análise e processamento de dados desenvolvidas.

A interpretação dos dados relativos aos GSR foi concluída com a apresentação de um comportamento tipo que está directamente relacionado com a resistência média da pele do sujeito durante cada uma das três fases da sessão experimental. O teste deste comportamento tipo nas sessões experimentais nas quais o dispositivo biométrico já estava disponível culminou na verificação e validação desta conclusão. Assim sendo, a resistência da pele tem tendência a diminuir quando o sujeito é confrontado com conteúdos multimédia emocionalmente tristes ou alegres, e o seu valor aumenta quando os conteúdos multimédia são neutros.

As conclusões anteriormente apresentadas, juntamente com o desenvolvimento de algoritmos de decisão baseados em análises estatísticas conduziram ao desenvolvimento da ferramenta EAT – Emotions Assessment Tool, que permite a identificação e classificação do estado emocional predominante do sujeito ao longo da sessão experimental. A aplicação desta ferramenta e respectivo uso dos dados biométricos captados ao longo da fase experimental deste projecto levaram a concluir e provar a eficiência desta ferramenta, com uma taxa de sucesso de aproximadamente 80% face à totalidade das vinte e oito sessões executadas. Apesar de ser necessário um grande esforço para elevar a taxa de sucesso a valores próximos da 100%, é sem dúvida uma ferramenta promissora e que com estudos e desenvolvimentos futuros poderá superar os actuais valores de sucesso.

Trabalho futuro:

As perspectivas futuras que poderão resultar dos estudos e desenvolvimentos apresentados ao longo deste trabalho têm duas vertentes que apesar de não serem coincidentes, completam-se.

Uma das vertentes relaciona-se directamente com o hardware. Uma melhoria do hardware utilizado neste trabalho seria um dos pontos-chave para a obtenção de resultados mais precisos e para o desenvolvimento de técnicas mais sofisticadas de análise dos dados biométricos. No entanto, a aquisição de novos equipamentos acarreta um aumento dos custos num ambiente cujo orçamento é naturalmente controlado, pelo que este passo deve ser tomado com as devidas precauções.

A aquisição de novos equipamentos biométricos, paralelamente à aquisição de outros mais sofisticados traduz-se numa melhoria significativa dos dados biométricos recolhidos, tanto a nível da resolução temporal obtida bem como uma filtragem de ruídos e interferências de qualidade superior. A partir da recolha de dados de novos dispositivos biométricos ou dispositivos mais sofisticados será possível o desenvolvimento de novas técnicas de análise e processamento dos dados, a partir das quais se permitirá determinar novos comportamentos padrão para as ondas cerebrais.

A determinação de novos padrões cerebrais poderá permitir por um lado uma classificação mais precisa dos estados emocionais do sujeito, e por outro a introdução de outros estados emocionais como o medo e a raiva na análise dos padrões das ondas cerebrais e dos dados biométricos na generalidade.

A indução emocional é dos critérios mais influenciadores no comportamento emocional do sujeito e nas respectivas respostas fornecidas a nível biológico, de tal forma que o melhoramento do conteúdo multimédia é uma das considerações a ter em conta para possíveis desenvolvimentos futuros a partir deste trabalho.

Tirando partido de parte do insucesso de algumas sessões experimentais, nomeadamente no que respeita aos movimentos corporais, poderá ser integrado um sistema que, através de sensores detecte os referidos movimentos determinando assim de uma forma automática se a sessão experimental deve ou não ser descartada.

Com base em dispositivos biométricos novos e mais sofisticados, com uma melhoria do catálogo multimédia e com o aumento do espectro de estados emocionais a determinar, estes são alguns dos melhoramentos que permitem o desenvolvimento de uma ferramenta de classificação automática do estado emocional predominante mais eficiente e de melhor qualidade.

Como conclusão, é importante referir que este trabalho está integrado num projecto de maior âmbito, o Doutoramento de Vasco Vinhas (Vinhas V. , 2008), ainda em fase de desenvolvimento. A nível de perspectivas futuras mais concretas, a ferramenta EAT poderá ser desenvolvida no sentido de analisar de forma online e em tempo real o estado emocional do sujeito durante um intervalo de tempo no sentido de determinar o próximo conteúdo ou conjunto de conteúdos multimédia a apresentar ao sujeito, criando assim uma interactividade e um feedback entre o sujeito e o computador.