O Estado Emocional

 

Ao longo de vários séculos consideravam-se estados emocionais como a tristeza, o medo, a raiva ou o desgosto o tipo de dados mais apropriado para estudar as emoções (Cacioppo, 2004). A razão para este ponto de vista é, de certa forma, directa. Quando alguém se encontra a balancear perigosamente na num precipício, posicionado na trajectória de um predador ou encurralado no topo de um edifício em chamas, as consequências não são subtis; o inconfundível estado de medo apodera-se do corpo e controla-o, a expressão de terror é involuntariamente desenhada no rosto, a atenção é focada apenas num conjunto de estímulos, as acções são conduzidas por tentativas de evitar o perigo eminente e os recursos metabólicos são mobilizados para suportar tais acções.

A emoção pode ser definida (Damásio, 1998) ou usada no sentido de designar uma colecção de respostas desencadeadas por partes do corpo humano ou do cérebro, e mesmo entre diferentes partes do cérebro, através de ambas as rotas neurais e hormonais. O resultado final deste conjunto de respostas é o estado emocional, definido pelas alterações de determinadas propriedades do corpo humano e em certas zonas do cérebro.

Os termos emoção e sentimento são diversas vezes mal interpretados e confundidos, mas as suas definições são claras (Oliveira & Sarmento, 2003) (Damásio, 1994). Do ponto de vista investigacional, é importante separar os termos que designam diferentes componentes de uma cadeia. O sentimento deve ser usado para descrever um estado mental complexo, resultado de um estado emocional. Este estado mental inclui a representação de alterações que ocorreram nas propriedades do corpo e são assinaladas através do sistema nervoso central, e ainda inúmeras alterações nos processos cognitivos. Ambos, a emoção e o sentimento, são passíveis de ser investigados, no entanto a emoção é de certa forma mais facilmente acessível do que o sentimento, dado que os estímulos e localização são mais simples, e também porque muitas das respostas são exteriorizadas e assim mensuráveis através de processos menos complexos.

Em 1994 foi desenvolvido um trabalho por Damásio (Damásio, 1994) que relata um estudo exaustivo de doentes com lesões no córtex pré-frontal, permitindo concluir que, embora a capacidade intelectual se mantivesse intacta, esses doentes apresentavam mudanças constantes do comportamento social e incapacidade de estabelecer e respeitar regras sociais. Deste estudo é inequívoco afirmar que as emoções são essenciais ao Homem, que o preenchem no seu quotidiano e o ajudam a superar obstáculos. As emoções protegem o Ser Humano evitando os perigos ou afastando-os, de certa forma opera como um mecanismo básico de tomada de decisões sem recorrer a deliberações ou considerações de facto, opiniões ou resultados. São vários os aspectos que se relacionam com as emoções, tornando-as num bem essencial para o Ser Humano. Por um lado as emoções são a expressão de mais alto nível da bioregulação em organismos complexos; sem emoção, a relação entre um organismo e o mais complexo dos aspectos do meio envolvente, a sociedade e a cultura, está quebrada. A memória é um dos aspectos primordiais do Ser Humano, e este, em conjunto com a emoção, formam um par indissociável. Por fim a emoção está directamente relacionada com a razão e a tomada de decisão, desde a simples acções como fugir do perigo, até mecanismos mais complexos como ética, leis, arte e ciência.

Ao longo deste trabalho irão ser desenvolvidos métodos e algoritmos capazes de, de uma forma autónoma, identificarem correctamente três dos estados emocionais de um Ser Humano. Dada a complexidade das emoções humanas e a sua difícil identificação, os estados emocionais abordados serão a alegria e a tristeza, dois estados escolhidos propositadamente por serem opostos e representarem valores inversos no que respeita à valência . Também as suas características e padrões de comportamento mais simples quando comparáveis com o totalidade do espectro das emoções levam a uma identificação e caracterização mais fidedigna e exequível no âmbito e dimensão deste trabalho.

Referências Bibliográficas:

- Damásio, A. R. (1998). Emotions and the Human Brain. Iowa, USA: Department of Neurology.

- Oliveira, E., & Sarmento, L. (2003). Emotional Advantage For Adaptability and Autonomy. AAMAS 03. Melbourne.

- Damásio, A. R. (1994). Descartes error: Emotion, reason and human brain. Europa-América.