As novas gerações e o ambiente



"Para lá da decepção provocada pelos fracos resultados da cimeira de Joanesburgo - que como era previsível se consumiu em espectáculo - há uma coisa que para muita gente constitui um motivo de esperança: a maior sensibilidade das novas gerações aos problemas do ambiente.

Os jovens não compram hoje certos produtos por serem «inimigos do ambiente», preocupam-se com a extinção das espécies, lêem muito mais informação sobre o tema.

Isso é inegável.

O problema é que isso corresponde a uma atitude de superfície.

Porque, a nível mais profundo, as novas gerações revelam um potencial destruidor do ambiente muitíssimo superior ao de todas as que as antecederam.

A questão está no consumo.

Por muitas normas que se redijam, por muitas limitações que se estabeleçam, por muitos protocolos que se assinem, o aumento do consumo agrava inevitavelmente os problemas ambientais.

Ora os jovens de hoje consomem dez ou vinte vezes mais do que os jovens de há vinte anos.

Não são só as novas tecnologias com tudo o que arrastam.

É a banalização do automóvel.

É a multiplicação dos objectos de uso pessoal.

É, em geral, uma nova atitude que não é de poupança mas de esbanjamento.

A verdade é que vivemos de ilusões.

Dizemos, por exemplo, que os automóveis são muito menos poluentes do que eram no passado.

É verdade.

Mas esquecemo-nos de acrescentar que há muitíssimo mais automóveis em circulação, existindo famílias com dois, três e quatro carros.

E o que acontece com os automóveis passa-se com muitos outros produtos.

As novas gerações, sendo em teoria amigas do ambiente, comportam-se na realidade como terríveis predadoras.

A salvação do Planeta exigiria uma atitude nova.

Uma atitude de contenção, de poupança, de renúncia, um certo espírito ascético.

Mas grande parte dos jovens mostra hoje uma tremenda voragem consumista, revela uma sensibilidade aguda em relação à moda, é ávida de objectos, permeável à propaganda.

Cultiva a ilusão de que a felicidade se conquista através da posse de cada vez mais bens materiais.

Assim, caminharemos alegremente para o abismo.

Quando, num horizonte que não sabemos qual é mas que está sempre mais próximo, o homem vir no horizonte a tragédia, assustar-se-á.

Mas aí já será tarde para a evitar."

In Expresso 7.9.2002