A História da Internet

1969 - A ARPA criou uma rede experimental chamada ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network). Era simultaneamente um backbone e uma rede experimental, onde novas aplicações eram testadas.

Inicialmente a ARPANET ligou 4 universidades e permitiu aos cientistas partilhar remotamente informação e recursos.

A ARPANET continuou a expandir-se durante as décadas de 70 e 80. Em 72 já ligava 37 nós e em 83, 562.

O objectivo de interligar LANs e WANs ficou conhecido por Internet, que é abreviatura de internetwork, e aplica-se tanto ao projecto como à rede protótipo que foi criada.

Em 1983 decidiu usar-se a família de protocolos TCP/IP na ARPANET. Generalizou-se a partir daí o uso do termo "Internet" para a rede constituída pelas redes que usam os protocolos TCP/IP ou são capazes de comunicar com redes TCP/IP.

A Internet é constituída por:

A Internet é um sistema de rede aberto uma vez que todas as suas especificações são públicas.

A colocação dos RFCs num computador da ARPANET possibilitava que fossem disponibilizados a todos os investigadores com acesso a esta rede.

Na década de 80, o UNIX e o TCP/IP passam a ser amplamente utilizados pela comunidade científica, quer nas universidades, quer noutros centros de I&D. NYSERnet, Department of Defense Network.

Evoluiu de 6000 computadores no fim de 1996 para 600000 no fim de 1991.
Em 1969 a Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA) foi encarregue de desenvolver métodos de transmitir dados fiavelmente através de ligações não fiáveis. Naquela altura os departamentos do governo possuíam plataformas de computação isoladas e redes que não podiam falar entre si sem uma implementação cara de soluções de comunicação, que, além de serem caras, as colocava à mercê do monopólio do vendedor com que estavam a lidar.

Foi então financiado um projecto de pesquisa e desenvolvimento para criar uma rede experimental (ARPAnet) de comutação de pacotes, o que significa que cada pacote é enviado pelo melhor caminho disponível, independentemente de qualquer outro pacote do fluxo de dados. A rede tinha de permitir a computadores de todos os tamanhos comunicarem entre si, independentemente do vendedor, sistema operativo, plataforma de hardware ou proximidade geográfica.

Embora a ARPAnet fosse uma rede experimental construída para ser utilizada no desenvolvimento e teste de tecnologias, as entidades que participavam no seu desenvolvimento começaram a utilizá-la para as necessidades diárias de troca de mensagens de correio electrónico e de transferência de ficheiros.

Em 1975, a ARPAnet foi declarada uma rede operacional, e a DCA (a Defense Communications Agency, mas tarde mudou de nome para Defense Information Systems Agency) ficou com a responsailidade de a administrar. Na altura a ARPAnet era baseada numa rede de linhas alugadas ligadas por nós especiais de comutação, chamados Internet Message Processor (IMP).

Por volta de 1979 o desenvolvimento dos protocolos TCP/IP já estava em curso. A DARPA formou então um comité informal (ICCB - Internet Control and Configuration Board) para coordenar e guiar o desenvolvimento dos protocolos e arquitectura de comunicação.

Em 1983 a velha ARPANET foi dividida em duas: a MILNET dedicada a aplicações militares da Defense Data Network, e uma nova e mais pequena ARPANET para pesquisa e desenvolvimento. O termo Internet foi utilizado para se referir a toda a rede: MILNET mais ARPANET. Em 1990 a ARPANET deixou formalmente de existir.

A meio dos anos 80, a National Science Foundation (NSF) estava à procura de uma forma de distribuir o acesso aos seus cinco centros nacionais de supercomputadores. Utilizando os protocolos da ARPAnet, a NSF ligou os cinco centros entre si, para formar o backbone NSFNET. As redes regionais foram formadas no fim dos anos 80 para fornecer acesso a este backbone, à qual as universidades e organizações de pesquisa ligaram as suas redes.

Uma ligação comum é que a maior parte destes internetworks é que eram largamente financiadas pelo governo. Isso signficava que o tráfego nas redes tinha de obedecer a certas acceptable use policies. Isto significava que as organizações podiam utilizar a Internet para promoção de pesquisa e educação mas não para promoção de comércio: não se podiam fazer anúncios ou promoção de produtos comerciais.

No início dos anos 90 as entidades governamentais afastaram-se do negócio de internetworking, dando lugar a empresas privadas que forneciam serviços Internet a empresas e indivíduos.


© Abril 1998, Pedro Remoaldo
Algumas notas sobre a história da Internet
Lígia Maria Ribeiro

No final dos anos 60, o Departamento de Defesa dos USA interessou-se pelas redes de computadores. Como o conhecimento neste domínio era ainda limitado, o Departamento de Defesa Norte Americano financiou a investigação no domínio da construção e da utilização de redes. Fê-lo através da Agência de Projectos de Investigação Avançados – Advanced Research Projects Agency (ARPA).



Em 1972 a ARPA passou a designar-se por DARPA, Defense Advanced Research Projects Agency.


 
Um dos principais objectivos desta investigação era criar uma infra-estrutura de comunicação que funcionasse em situações críticas, por exemplo em ambiente de guerra. Deveria ser tolerante a falhas permitindo que a comunicação entre os diferentes computadores ligados à rede se processasse de uma forma flexível. A informação deveria ser transmitida mesmo que um determinado canal de comunicação ficasse inoperacional. A utilização de "caminhos" alternativos para transmitir a informação garantiria a sua chegada ao destino pretendido.


Uma rede de computadores é um grupo de computadores ligados entre si através de hardware e de software. A rede permite aos sistemas e aos utilizadores comunicarem entre si e partilharem informação.


 
No início dos anos 70, a ARPA tinha a funcionar várias redes de computadores, incluindo uma rede WAN chamada ARPANET, e outras que utilizavam satélites e transmissão rádio para suporte da comunicação. Portanto existiam protótipos com distintas tecnologias de base.

  1. LAN: Local Area Network: rede local de comunicação de dados, que interliga equipamentos num mesmo edifício ou num conjunto de edifícios próximos, sendo geralmente redes de alto débito.
  2. WAN: Wide Area Network: rede de comunicação de dados de longa distância, que interliga equipamentos em várias localidades, podendo ter uma cobertura nacional ou regional. Estas redes são geralmente de baixo débito, de algumas dezenas de Kbps, embora com a evolução da tecnologia, nomeadamente com o ATM (Asynchronous Transfer Mode), comecem a existir linhas com débitos de dezenas e até centenas de Mbps.
  

A ARPA começou a transferir tecnologia para a Defesa mas reconheceu de imediato a importância em ultrapassar as dificuldades ainda existentes de interligação de redes que utilizassem tecnologias diferentes. A Agência procurou então, à custa de bolsas atribuídas a investigadores universitários e da indústria, criar as sinergias necessárias ao desenvolvimento de um trabalho cooperativo, tendo em vista a resolução deste problema. Em reuniões periódicas, os investigadores discutiam as suas ideias gerando novas abordagens. A Agência assegurou que estas discussões tivessem um carácter essencialmente prático, tendo por base a experimentação, insistindo na criação de aplicações protótipo para teste das ideias que iam surgindo.

O objectivo era pois a interligação de LANs e WANs, o que ficou conhecido por internetwork. Este termo, internetwork, é geralmente abreviado para internet e aplica-se tanto ao projecto como à rede protótipo que foi criada. Para distinguir a sua internet de outras internets, os investigadores do projecto convencionaram escrever internet, com letra minúscula, para referir as internetworks em geral, e Internet com I maiúsculo para referir o seu protótipo. Esta convenção mantém-se ainda.

A ARPANET foi especialmente importante para o projecto Internet por ser a WAN que interligava os investigadores que trabalhavam no projecto. Era simultaneamente um backbone, ou infraestrutura de comunicação, e uma rede experimental, onde novas aplicações eram testadas.

Como backbone permitia a ligação de outras redes, que deste modo se ligavam entre si.

A componente lógica, isto é as aplicações, constituem uma componente essencial da tecnologia que possibilita a interligação de redes.



Na década de 70 foram introduzidas as aplicações telnet, que permite criar sessões interactivas remotas, e ftp (File Transfer Protocol) que padronizou a transferência de ficheiros entre computadores numa rede.


 
Desde o início do desenvolvimento do suporte lógico existiu a preocupação de que constituísse um todo coerente. Esse objectivo foi atingido, conseguindo-se que as diversas partes funcionem tão harmoniosamente que o utilizador não se aprecebe da complexidade subjacente.

Em particular, há duas componentes básicas do suporte lógico. São elas o IP (Internet Protocol), que possibilita a comunicação, e o TCP (Transmission Control Protocol) que acrescenta funcionalidades adicionais, como a de garantir a fiabilidade do fluxo de dados na transmissão. Informalmente, é usual identificar todo o conjunto de software de comunicação na Internet pelas iniciais destas duas componentes: TCP/IP. Mais correctamente deverá dizer-se a família de protocolos TCP/IP (protocol suite ou protocol stack).

É por esta razão que os termos TCP/IP e Internet se usam muitas vezes indiferentemente, embora sejam conceitos distintos.



O TCP/IP é uma família de protocolos utilizada para comunicar em rede e a Internet é uma rede de redes de computadores que comunicam usando a família de protocolos TCP/IP.


 
A família de protocolos TCP/IP engloba, além do IP e do TCP, muitos outros protocolos, nomeadamente o SMTP (Simple Mail Transfer Protocol), que oferece o serviço de correio electrónico, o FTP (File Transfer Protocol), que oferece o serviço de transferência de ficheiros, o Telnet (Telecommunications Network Protocol), que oferece o serviço de terminal virtual, o ARP (Address Resolution Protocol), que oferece o serviço de resolução de endereços IP em endereços Ethernet, o RARP (Reverse Address Resolution Protocol), que oferece o serviço inverso e o DNS (Domain Name System), que oferece o serviço de resolução de nomes em endereços IP e o serviço inverso.

São estes últimos três serviços que permitem a identificação dos equipamentos numa rede.



Um protocolo é um conjunto de regras que definem o modo como a informação é enviada numa rede. Para trocarem informação, dois computadores têm de utilizar o mesmo protocolo.


 
A Internet é um sistema de rede aberto uma vez que todas as suas especificações são públicas e qualquer empresa pode construir tecnologia compatível. Realmente, para encorajar a adoção da tecnologia Internet a ARPA decidiu tornar públicos os resultados da investigação. Sempre que um investigador descobria uma nova técnica a ARPA pedia ao investigador que documentasse os resultados num relatório, que era tornado público. Inicialmente planeou-se apresentar os relatórios em duas fases. Primeiro disponibilizava-se um relatório preliminar para que fosse comentado por outros investigadores – chamava-se RFC (Request for Comment). Ao fim de algum tempo, os comentários eram incorporados no RFC e disponibilizava-se um relatório final chamado IEN (Internet Engineering Note).

Os IENs acabaram por não se concretizar porque os RFCs ou não necessitavam de revisão ou acabavam por ser praticamente reescritos. Por outro lado, os investigadores preferiam investir em novas ideias do que corrigir relatórios passados. Os <"http://ds.internic.net/ds/dspg1intdoc.html" Target="new">RFCs são, na realidade, os registos oficiais dos projectos.

A colocação dos RFCs num computador da ARPANET possibilitava que fossem disponibilizados a todos os investigadores com acesso a esta rede. Para facilitar a sua recuperação, cada RFC é identificado por um número inteiro de quatro algarismos, existindo um índice que estabelece a correspondência entre o número e o título do RFC.

O facto dos RFCs estarem acessíveis permitia aos investigadores coordenarem as suas actividades e manter as aplicações actualizadas. O projecto Internet avançou assim rapidamente.

Em 1982 o protótipo Internet estava operacional e a Defesa Americana passou a usar o TCP/IP nas suas redes. Nesta altura destacou-se da ARPANET a rede utilizada pelos militares, a MILNET. Este foi um ponto de viragem em que a Internet deixa de ser apenas uma rede experimental para se tornar numa rede útil a uma comunidade alargada de utilizadores.

Generalizou-se a partir daí o uso do termo "Internet" para a rede constituída pelas redes que usam os protocolos TCP/IP ou são capazes de comunicar com redes TCP/IP.

A rede não estava ainda, porém, em plena fase de exploração. A tecnologia não era suficientemente robusta, o software precisava de ser mais extensivamente testado e melhorado e todo o sistema necessitava de afinação.

Entretanto (final da década de 70), uma outra tecnologia despontava: um grupo de investigadores dos Laboratórios Bell apresentava o UNIX Timesharing System. Como os Laboratórios Bell usavam computadores com diferentes arquitecturas, o sistema operativo UNIX foi desenhado tendo em vista a portabilidade. O objectivo era que pudesse ser facilmente instalado em diferentes plataformas de computação. Para testar a portabilidade do sistema, os Laboratórios Bell permitiram às universidades ter cópias do UNIX para fins de ensino e de investigação. Esta era, sem dúvida, uma boa estratégia para atingir o objectivo desejado. Por outro lado, as universidades dispunham do código fonte do UNIX o que possibilitava o seu estudo e exploração por uma comunidade alargada de investigadores e estudantes, facilitando a sua beneficiação e desenvolvimento.

Um grupo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, interessou-se particularmente pelo UNIX e desenvolveu para ele um conjunto de aplicações, chegando mesmo a modificar o núcleo (kernel) do sistema operativo. Novas funcionalidades foram acrescentadas, em particular no que respeita às comunicações em rede. A versão UNIX de Berkeley, intitulada BSD UNIX (da sigla de Berkeley Software Distribution), foi amplamente disponibilizada às universidades. Dada a abrangência desta distribuição a ARPA considerou ser este um bom meio para disseminar o software Internet e negociou com a Universidade de Berkeley a incorporação do mesmo no UNIX BSD. A primeira versão a incluir o TCP/IP foi o BSD UNIX 4.2, disponibilizado em 1983. Rapidamente o UNIX e o TCP/IP passaram a ser utilizados pela comunidade científica, quer nas universidades, quer noutros centros de I&D.

Foi sem dúvida a aposta no ensino e na investigação destas tecnologias que permitiu o seu rápido desenvolvimento.

Em 1969 a ARPANET interligava quatro computadores (nós da rede) nas Universidades da Califórnia Los Angles, Califórnia San Bernadino, Stanford e Utah. Em 1983, eram já 562 os computadores ligados à Internet. A partir de 1983 o crescimento da Internet começa a ser muito rápido, duplicando em cada ano o número de nós ligados à rede. Esta situação obrigou os investigadores a alterações constantes quer no suporte físico, quer nas aplicações, quer ainda nos procedimentos de administração adoptados.



Em 1974 a rede baseava-se em linhas alugadas a 56 Kbps.


 
Note-se que, quando em 1983 os militares Norte Americanos aderiram à Internet já muitos cientistas, nas universidades e centros de I&D, a utilizavam. Realmente, no fim da década de 70 surgiu uma rede financiada pelo NFS, Nacional Science Fundation, que visava interligar a comunidade de investigadores em ciência da computação. Este projecto, igualmente apoiado pela ARPA, ficou conhecido por CSNET (Computer Science Net). Com o rápido crescimento da Internet a ARPA decidiu que estes grupos de cientistas deveriam organizar-se e ter maior responsabilidade na coordenação da investigação no TCP/IP e no desenvolvimento da Internet. Criou-se assim o grupo IAB – Internet Activities Board, cujo responsável se designou por Internet Architect. Outro membro do IAB foi nomeado como RFC Editor, tendo a responsabilidade de rever e editar todos os RFCs.

Para estudar um determinado problema que lhe fosse atribuído, cada elemento do IAB arranjava voluntários na comunidade académica criando as chamadas task force. O membro do IAB era o responsável da task force e representava-a nos encontros do IAB. Como resultado do trabalho de uma task force deveria surgir uma aplicação protótipo que demonstrasse como as ideias entretanto desenvolvidas se aplicavam na prática. A task force submetia então uma especificação na forma de um RFC.

Em 1985 o NFS, reconhecendo a importância da Internet para os cientistas em geral, apresentou ao Congresso Norte Americano um programa para ligar 100 Universidades à Internet. Um dos principais objectivos era o acesso dos investigadores aos cinco centros de supercomputação do País. Na sequência deste projecto surge a NFSNET. Rapidamente o projecto evoluiu, visando ligar à rede toda a comunidade de cientistas e engenheiros. A Internet não tinha, reconhecidamente, capacidade para suportar este programa. Foi necessário criar uma nova rede de elevado débito (448 Kbps): o NFSNET Backbone, suportado financeiramente pelo NSF, pela IBM, pelo MCI e pelo MERIT. Apesar deste esforço para beneficiação da infra-estrutura, no final de 1991 a capacidade da Rede apresentava-se, de novo, próxima do limite (e a largura de banda já tinha sofrido, entretanto, um aumento para 1.544 Mbps). A IBM, MCI e MERIT criam então uma companhia sem fins lucrativos chamada Advanced Networks and Services (ANS) que cria a ANSNET. Esta usa linhas de transmissão com capacidade trinta vezes superior às do NFS Backbone, que substituiu (45 Mbps). Existe aqui uma diferença significativa em relação ao passado. A ANS, e não o Governo, é agora a dona da infra-estrutura activa e passiva da ANSNET.

Em 1995 a MCI Coorporation desenvolve uma WAN para substituir a ANSNET. É esta WAN que constitui o very high-Speed Backbone Network System (vBNS). A passagem da Rede para uma companhia privada foi o passo decisivo no sentido da comercialização e privatização da Internet.

Na realidade, o ponto de viragem que esteve na origem da Internet tal como a conhecemos hoje em dia deu-se em 1989, quando entraram para o IAB representantes de organizações com carácter comercial. Foi este caminhar no sentido da privatização da Rede que determinou a sua explosão quer em número de utilizadores, quer em número de serviços.


  1. Em 1992, o IAB passou a designar-se Internet Architecture Board. Esta reorganização pretendeu essencialmente dar maior autonomia técnica aos vários grupos ficando a direcção mais como árbitro de políticas e padrões. O IAB integrou-se na Internet Society.
  2. A fundação da ISOC (Internet Society ) ocorreu em 1992. Trata-se de uma organização Internacional dedicada à expansão, desenvolvimento e acessibilidade da Internet.
  3. Entre os vários task force do IAB há um que se destaca em especial pela sua actividade. Trata-se do Internet Engineering Task Force (IETF), principal responsável pelas questões técnicas da Internet. O IETF realiza encontros aproximadamente de três em três anos. Os participantes, na ordem das centenas, são voluntários que procuram conhecer os últimos desenvolvimentos e participar neste projecto conjunto que continua a ser a Internet.
  

Embora desenvolvida nos U.S.A, a Internet tem actualmente uma abrangência mundial. Ainda na fase inicial de desenvolvimento da Rede a agência ARPA utilizou satélites para experimentar as comunicações para a Noruega e para a Inglaterra, tendo sido estes os primeiros países europeus a disporem de acesso à Rede.

Na europa foram as companhias de telefones, portanto empresas públicas, que se interessaram pelas redes. Estas companhias pediram ao ITU (International Telecommunication Union), previamente designado por CCITT (Consultive Committee for International Telephone and Telegraph), que criasse um padrão que lhes desse garantias de compatibilidade. O resultado foi a tecnologia X.25 que passou a ser usada na Europa. Sendo as companhias de telefone a controlar as comunicações, seguindo as recomendações do ITU, tal como para as comunicações de voz, era difícil experimentar alternativas. No entanto, alguns investigadores nas Universidades e laboratórios de investigação fizeram-no. Por exemplo, na Inglaterra, a JANET (Joint Academic Network) estava operacional em 1970. A EARN (European Academic Research Network) foi a primeira rede de longa distância a servir a comunidade académica e de investigação na Europa, Médio Oriente e África. Este projecto foi financiado pela IBM e iniciou-se em 1983.

No âmbito do projecto Eureka COSINE, criou-se em 1987 uma rede pan-europeia de suporte à investigação. Tratou-se da rede IXI (International X.25 Interconnection). Como o próprio nome indica, tratava-se de uma rede X.25 (64kbps). Nesta rede era dada ênfase à adoção de padrões de comunicações, quer houvesse ou não produtos comerciais disponíveis (ex: X.25, X.400, X.500 etc.). O financiamento dependia da manutenção desta política. A utilização do IP era completamente posta de parte. Isto desagradava à comunidade académica. Defendia-se também que deveriam admitir-se como utentes desta rede empresas industriais, na sua vertente de I&D. Esta política atraiu as operadoras nacionais. Um concurso público então lançado foi ganho pela PTT Telecom Holandesa. A mudança de propriedade levou à mudança de nome para EuropaNet (2 Mbps). O relacionamento com a gestão técnica e "comercial" da Europanet foi sempre bastante burocrático. Isto levou, em 1991/92, um grupo de redes académicas, especialmente nos países nórdicos, a estabelecer uma rede alternativa pan-europeia, que não fosse tão restritiva quanto aos protocolos utilizados (admitindo o IP) e que tivesse uma gestão mais flexível. Chamaram-lhe EBONE (European Backbone). O EBONE é a congénere na Europa da NSFBONE Norte Americana. A partir do segundo trimestre de 1997, a Eurapanet tem vindo a ser substituída pela rede TEN-34, que suporta velocidades de 34 Mbps (compare-se com os actuais 622Mbps dos USA!). A EBONE já propõs uma evolução semelhante. Entretanto ocorreu o termo do contrato da PTT Telecom Holandesa para a Europanet, passando a ser a British Telecom a explorá-la.

A utilização da Internet em Portugal ocorreu no início dos anos 80, através da rede tefefónica e da rede pública da dados (X.25). Esta utilização era sobretudo a dos estudantes pós-graduados em universidades estrangeiras que, uma vez regressados a Portugal, mantinham assim o contacto com estas instituições.

Só depois da criação do primeiro nó EARN em Portugal, na Universidade de Lisboa, começaram a ser criadas ligações a este nó a partir de várias instituições nacionais. As ligações faziam-se através da rede pública de dados (Telepac). A ligação internacional a Espanha era feita por uma linha dedicada.

No final de 1986 é criada a Fundação para a Computação Científica Nacional, responsável pela Rede para a Comunidade Científica Nacional (RCCN) e, actualmente, também pela a recentemente criada Rede de Ciência, Tecnologia e Sociedade (RTCS). É através da RCTS que se ligam actualmente à Internet as escolas públicas, privadas e profissionais do 5º ao 12º anos e as bibliotecas municipais.

Informações actualizadas sobre estas redes, nomeadamente dados de crescimento em Portugal, encontram-se no sítio Web da FCCN, no endereço www.fccn.pt. Pode também encontrar-se informação sobre a RCTS no sítio Web da uARTE (Unidade de Apoio à Rede Telemática Educativa), no endereço www.uarte.mct.pt.

A FEUP é um Point-of-Presence (PoP) da RCTS, ligando à Internet 234 escolas e 14 bibliotecas das regiões do Porto e Penafiel (www.pop-feup.rcts.pt).
 

O crescimento da Internet duplica em aproximadamente cada 10 meses. As implicações deste facto são interessantes. Por exemplo, apesar de a Internet existir há várias décadas, cerca de metade dos cibernautas acederam à Internet no último ano. Curiosamente, esta mesma afirmação era válida em 1984.

Este crescimento exponencial obriga, por um lado, a um trabalho técnico incessante dos responsáveis por operar a rede, obrigando simultaneamente os engenheiros a disponibilizar novas tecnologias que suportem a expansão e, por outro lado, abre hipóteses de negócio fascinantes, quer de produtos quer de serviços.

Quando terminará este crescimento? Poderá manter-se?

Já por várias vezes o colapso da Internet parecia inevitável e todavia ela continuou a crescer. Embora os cientistas concordem que o crescimento não pode ser ilimitado, poucos se atrevem a adivinhar o futuro (veja-se, a título de exemplo, o IPng, já na "calha" para resolver o problema actual da exaustão do espaço de endereços IP).

 
Do ponto de vista da utilização, metade dos nós actualmente ligados à Internet têm natureza comercial. Há aqui um conflito potencial com os objectivos iniciais da Internet: a comunicação aberta entre organismos de investigação e universidades. Reconhecendo-se que o crescimento acentuado do uso comercial da Internet é inevitável, tem havido algum esforço de regulamentação. Assim surgem os AUPs (Acceptable Use Police). O primeiro AUP surgiu em 1992, na NSFNET, no qual se inspiraram muitos outros AUPs. A FCCN tem um AUP. Alguns AUPs são bastante restritivos quanto a actividades comerciais enquanto que outros são bastante mais liberais desse ponto de vista. Muitos têm vindo a ser actualizados, contemplando actividades comerciais.

A utilização comercial da Internet foi potenciada pelos ISPs (Internet Service Providers), que oferecem conectividade Internet quer a empresas quer a indivíduos. Muitos não têm AUPs.
 
Iniciativas recentes visando criar infraestruturas de rede adequadas no futuro e discutir os aspectos tecnológicos, culturais e económicos a elas associados são a criação nos USA, por iniciativa do vice presidente Al Gore, do Advisory Council para a NII (National Information Infrastructure), que pretende dar à criação da "rede das redes" uma prioridade nacional, e a reunião do G7, em Fevereiro de 95, sobre a Global Information Infrastructure. A revista electrónica G7 Live contém notícias sobre a conferência, que foram então apresentadas diariamente na Rede.

Nos próximos 10 a 15 anos o projecto NREN (National Research and Education Network) prevê disponibilizar velocidades de 3Gbps às Universidades e Institutos de investigação nos USA, tendo em vista possibilitar quer a computação distribuída, quer a investigação nas tecnologias e aplicações das redes de elevada velocidade.

Em Portugal, a problemática relacionada com a Sociedade da Informação tem vindo a ser abordada no âmbito da Missão para a Sociedade da Informação, do MCT.
 

Lígia Maria Ribeiro
FEUP-CICA
1998-3-6