Federic Chopin – Um caso
psicossomático?
A ligação entre acontecimentos de vida marcantes, sofrimento
psicológico, doença física e criatividade artística desde sempre
interessou os psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, historiadores…
Exemplo desta misteriosa combinação numa personalidade genial é Frederic
Chopin.
F. Chopin nasceu perto de Varsóvia em 1810, sendo o segundo de quatro
irmãos. À data do seu nascimento, a mãe tinha 28 anos e o pai 39. Chopin
começou muito cedo a sua carreira de músico, frequentando aulas de
composição musical e de piano no Conservatório de Varsóvia.
Em 1830, Chopin deixa a Polónia e parte para Viena em busca de novos
conhecimentos do mundo da música. Por volta desta data, é afectado por
uma depressão reactiva. Nas suas próprias palavras: “Everything here is
sad and dark for me… I feel so strange and lonely…to live or to die
seems to be the same…”
Não será difícil encontrar razões que justifiquem este humor deprimido.
De facto, a separação da família e do país onde havia nascido, o não
reconhecimento da sua pessoa como artista em Viena e, por fim, a
Revolução Polaca de 1831, são acontecimentos de vida encarados como uma
espécie de insulto narcísico, ao qual Chopin reagiu com uma profunda
depressão.
Após dois anos mal sucedidos em Viena, Chopin parte para Paris. Ainda
que inicialmente não tenha tido grande sucesso nesta cidade, os dias na
capital francesa foram produtivos e felizes para o músico polaco.
Tornou-se conhecido como um notável compositor, pianista e professor e
os seus trabalhos foram impressos e interpretados em diversos países.
Em 1835, Chopin conheceu Maria Wodzinska, filha de um duque polaco.
Chopin e Maria ficaram noivos no ano seguinte e casaram pouco tempo
depois, com a aprovação de ambas as famílias. Contudo, o casamento foi
gradualmente destruído pela família de Maria. Chopin ficou profundamente
abalado com a separação e não voltou a ver Maria. No entanto, guardou
todas as suas cartas, apelidando-as de “my grief”. Nesta mesma altura,
surgem os primeiros sintomas da fatal tuberculose pulmonar.
Se adoptássemos uma atitude psicossomática, identificaríamos este
importante acontecimento de vida (perda da esposa) como factor
patogénico crucial na tuberculose de Chopin.
Entre Novembro de 1838 e Fevereiro de 1839, Chopin encontra-se na ilha
de Maiorca com George Sand, sua nova companheira, e com os filhos desta
famosa poetisa francesa. Nesta altura, o compositor sofria já de
tuberculose crónica e, devido ao tempo húmido e frio, teve as primeiras
hemorragias pulmonares.
Os anos seguintes foram passados em Paris, na casa de campo de George
Sand. A progressão veloz da doença enfraquecia Chopin cada vez mais.
Apesar disto, o período compreendido entre 1839 e 1845 foi o mais
produtivo da sua vida. No seu diário confessou: “On the piano I can
express by despair!”. O sentimento de estar terrivelmente doente,
combinado com a viva motivação criativa foi a base emocional para o
despertar do seu génio poderoso nesta fase.
Após a separação de George Sand, em 1847, a doença evoluiu rapidamente
e, apesar de ter recorrido aos mais afamados médicos da época, Chopin
faleceu em Paris a 17 de Outubro de 1849.
A tese de que a Tuberculose é causada tanto por factores psicológicos
como físicos é actualmente aceite e empiricamente sustentada por
numerosos estudos. O componente psicológico também pode ser responsável
pelo facto de apenas 5 a 10% dos sujeitos infectados com a bactéria se
tornarem efectivamente tuberculosos.
A questão de saber se existe uma pré-mórbida específica ou conflitos
típicos ainda está por esclarecer. Contudo, ainda que as opiniões
difiram, pode dizer-se que uma pessoa que sofre de tuberculose possui
uma estrutura neurótica mista e que os traços narcísicos, esquizóides e
depressivos são mais preponderantes que os traços obsessivo-compulsivos
ou histéricos. Não há provavelmente especificidade em relação aos
conflitos e aos acontecimentos de vida que condicionam o aparecimento da
doença.
No que concerne à terapia, os especialistas apoiam fortemente a tese de
que juntamente com a terapia farmacológica, a psicoterapia deve ser
considerada um componente indispensável de um programa de tratamento bem
sucedido.
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