Queima de resíduos
Evitar a poluição
Fogueiras
e lareiras
A combustão de madeiras impregnadas com conservantes ou pintadas, praticada em fogueiras a céu aberto ou utilizada em lareiras, origina a libertação de numerosos poluentes, não só para a atmosfera como também na forma de cinzas que não devem ser utilizadas como fertilizantes do solo.
Os resíduos de madeiras tratadas ou pintadas
deverão ser encaminhados tal como os resíduos sólidos urbanos, que no caso
da incineração terão de ser tratados nas incineradoras de resíduos urbanos
(IRU).
Os preservantes organo-clorados como o pentaclorofenol,
revestimentos em PVC ou tintas, em particular as mais antigas, contendo chumbo,
cádmio, arsénio, cobre ou zinco, vão transformar uma vulgar madeira num resíduo
perigoso.
Nas IRU os resíduos são queimados a temperaturas
elevadas, com fornecimento de oxigénio adequado e os gases são sujeitos a
tratamentos de lavagem muito sofisticados que permitem reter não só os produtos
orgânicos incompletamente destruídos, como também os metais arrastados pelos
gases de combustão.
Ao contrário, na queima em fogueiras ou lareiras um grande número de substâncias nocivas e tóxicas vão ser libertadas, e uma vulgar queima de pequenas quantidades de resíduos origina uma forte contaminação ambiental.
Quais são os poluentes produzidos?
A combustão não controlada produz quantidades
elevadas de monóxido de carbono, anidrido sulfuroso e ácido
clorídrico, muito superiores às produzidas num IRU. O ácido clorídrico
resulta da queima de plásticos clorados (PVC), mas pode ainda ser originado
pela destruição térmica de embalagens de cartão plastificado, como as usadas
nos pacotes de leite ou de sumos.
No que diz respeito à produção de dioxinas
e furanos a queima de resíduos banais como cartões plastificados e
plásticos produz cem a mil vezes mais destes poluentes perigosos do que se
fossem incinerados numa IRU.
A combustão incompleta (associada frequentemente
à emissão de fumos negros), a temperaturas baixas, origina a emissão de hidrocarbonetos,
alguns dos quais como é o caso de alguns hidrocarbonetos aromáticos são cancerígenos.
Os metais existentes na forma de pigmentos nas
tintas, em particular nas mais antigas são em parte libertados para a atmosfera
com os gases de combustão, ficando outra parte nas cinzas.
Os teores em chumbo, cádmio, arsénio e cobre
detectados em análises realizadas a entulhos contendo madeiras de demolição
atingem concentrações centenas ou milhares de vezes superiores aos encontrados
na madeira virgem.
Conforme as suas características os metais podem
ser mais ou menos arrastados pelos fumos, ficando o restante a contaminar
as
Na
figura seguinte ilustra-se a diferença de repartição de três metais pesados
nos fumos e nas cinzas duma fogueira
A combustão incompleta, muito vulgar nas fogueiras
comuns, em que encontramos pedaços de madeira carbonizada, incompletamente
consumida produz enormes quantidades de dioxinas que ficam acumuladas nas
cinzas, conforme foi verificado em ensaio realizados por um laboratório estatal
suíço (LFEM)
A combustão de madeira produz cerca de 8,6 m3
de gases por kg, representando as cinzas 0,2 a 2% do peso da madeira queimada.
Quando os fumos são filtrados podemos avaliar o perigo que resulta desta prática
ilegal de combustão de lixos: foram atingidos os 20 000 ng de dioxinas por
quilo de cinzas retidas num filtro fino!
Como termo de comparação refira-se que os limites legais de emissão de dioxinas para uma operação de incineração ou co-incineração são de 0,1 ng por m3 de gases efluentes, sendo a média das co-incineradoras europeias cerca de um quarto deste valor.
A queima sem controlo e o problema da co-incineração
O alarmismo lançado em torno da co-incineração e do perigo da eventual emissão acrescida de dioxinas resulta de aproximações simplistas em que os aspectos quantitativos do problema têm sido sistematicamente ignorados. Sendo, como se disse, a contaminação com dioxinas um problema ambiental global, importa avaliar a contribuição das várias fontes para o aparecimento de valores preocupantes registados recentemente em análises efectuadas, em parte transcritas na imprensa diária.
As
madeiras importadas destinam-se em grande parte ao fabrico de mobiliário e
à construção civil. Segundo o INE em 1998 foram importadas 2 234 416 toneladas
de madeira, compreendendo toros de folhosas tropicais, toros de folhosas temperadas, madeira
serrada de folhosas temperadas e obras de carpintaria para construção.
Sendo
a madeira um produto de construção tradicional, pode admitir-se facilmente
que uma larguíssima percentagem da madeira utilizada vai ser usada para substituir
madeiras de construção ou mobiliário resultante
de actividades de demolição e renovação. Note-se que embora os dois milhões
de toneladas incluam madeira destinada ao fabrico de pasta de papel, não incluem
a produção de madeiras nacionais, sendo portanto as madeiras tratadas usadas
no fabrico de vedações e cercas excluídas desta estimativa.
As
madeiras importadas destinam-se normalmente a aplicações mais nobres, sendo portanto sujeitas a operações de
preservação por impregnação ou pintura. Admitindo o mesmo factor de
emissão já anteriormente usado no relatório da CCI de 300 ng/kg de madeira
queimada, valor bastante baixo face aos números encontrados no relatório suíço
anteriormente referido, podemos estimar a importância da queima descontrolada
para a contaminação nacional com dioxinas.
Se
apenas 10% da madeira substituída for queimada
de forma descontrolada, teremos uma produção de 66g de dioxinas para Portugal
Continental. Tendo em conta os limites legais de emissão para a co-incineração
de 0,1 ng/m3 de gases de combustão, a co-incineração dos Resíduos Industriais Perigosos durante um ano significará a emissão de 0,08g
I TEQ de dioxinas (1º relatório da CCI página 282, ed impressa ou Anexos).
Verificamos
assim que a queima ilegal de resíduos de madeira representa
um problema ambiental duma magnitude que não corresponde de forma alguma á expressão
pública da “consciência ambiental” nacional.
Conclusão
A poluição do ambiente por metais pesados e
por dioxinas resulta em grande parte da queima descontrolada de resíduos.
O hábito de destruir o lixo pelo fogo sem controlo tem de ser combatido.
Seria desejável que todas as obras de construção
civil fossem obrigadas a dispor dum contentor para os resíduos, controlado
pelas autarquias, garantindo assim o seu correcto tratamento em vez do seu
vazamento clandestino ou queima ilegal.