• Terra de Santa Maria

    A "Terra de Santa Maria" foi uma região medieval organizada administrativa e militarmente em torno do castelo de Santa Maria. Provavelmente terá sido criada por Afonso III de Leão, em meados do Séc. IX (866-910), na sequência do repovoamento de "Portucale" (o nome em Latim dado ao Porto, onde se situava o centro do condado).

     

    Inicialmente, estendia-se entre os Rios Douro e Vouga, tendo a leste as serranias de Paiva, Arouca, Cambra e Sever do Vouga e a oeste, o Oceano Atlântico.

     

    Nos princípios do séc. XII, os seus limites oficiais ficaram mais reduzidos com a demarcação da fronteira entre as dioceses do Porto e Coimbra. A área da região foi reduzida a sul, passando essas terras a integrar a diocese de Coimbra, enquanto que o núcleo central passou a pertencer à diocese do Porto, embora administrativamente ainda sujeita ao governo de Coimbra.

     

    Deste "núcleo central" faziam parte territórios que hoje se distribuem por 14 concelhos: Albergaria-a-Velha (parte), Arouca (parte), Castelo de Paiva (parte), Sever do Vouga (parte), Vale de Cambra (parte), Espinho, Estarreja, Gondomar (parte), Murtosa, Oliveira de Azeméis, Ovar, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia.

     

    De então para cá, aquele núcleo central com aquele nome, manteve-se até meados do séc. XIX, ao contrário do que sucedeu com outras regiões medievais, entretanto desaparecidas.

     

     

     

     

     

  • Antecedentes

    O território situado entre o rio Douro a norte, o rio Vouga a sul, e a serra de Arada a leste constitui desde sempre um núcleo onde se criaram vários centros populacionais.

     

    A organização deste território formou-se ao longo duma estrada traçada desde a época romana, entre os pólos urbanos do Porto e Coimbra. Este troço, pertencente à maior via de comunicação do ocidente da Península Ibérica, ligava a Galécia a norte, a cidades com funções comerciais e administrativas a sul. Aí, eram encaminhados produtos vindos do Norte para o Mediterrâneo, que eram seguidamente enviados para Roma e outras cidades do Império Romano.

     

    O último povo que lá se terá fixado antes da chegada dos romanos, terão sido os Túrdulos antigos (Turduli Veteri), vindos duma migração proveniente do sul. A povoação mais importante deste povo era Lancóbriga, que alguns pensam identificar-se com o atual Castro de Fiães.

     

    Escavações efetuadas parecem indicar que nesta região tenha havido um santuário tribal. O castelo assenta num castro romanizado, e nas escavações efetuadas, foram encontrados vários vestígios romanos (cerâmicas), lápides consagradas às divindades "Tuéreo" e a "Bandevelugo Toiraeco".

     

    A prosperidade da região da Terra de Santa Maria atraiu agricultores, mercadores e cavaleiros que se fixaram na época medieval. Paralelamente à antiga via romana, surgiram outras vias que ligavam as várias povoações que se estabeleceram na zona.

     

     

     

  • Terra Mãe de Portugal

    Neste espaço geográfico delimitado por acidentes naturais muito fortes, foi-se desenvolvendo:

     

    Um espaço económico muito importante vivendo numa grande complementaridade de subsistência: As serranias davam-lhe a caça, a pastorícia e a abundância de madeira. Os rios que a atravessavam e a extensa orla marítima, asseguravam-lhe a pesca. Nas planícies que se estendiam de leste para o mar era o cultivo de cereais e do vinho. Uma prospera zona de extracção de sal, em Cabanões, garantia este elemento indispensável à conservação dos alimentos.

     

    A par disto, uma notável rede viária assegurava um comércio intenso num local de passagem obrigatória entre Coimbra e o Porto. Junto ao Castelo a realização de grandes feiras comerciais acabaram por dar o nome à povoação: Feira (já em 1117);

     

    Um espaço militar muito forte apoiado numa organização militar permanente para defesa contra as incursões árabes;

     

    Um espaço cultural servido por dezenas de cenóbios e pelos grandes mosteiros de Grijó e de Pedroso. Estes institutos religiosos davam, àquelas gentes, para além de um esquema de valores cristãos, a possibilidade de funcionarem como centros administrativos para a redacção de documentos. Tudo isto, acabou por gerar um clima de "auto-suficiência de vida" e "uma identidade peculiar", de que algumas linhas mestras perduram até aos nossos dias.

     

    E foi, exactamente, esta pujança económica, esta força militar organizada e esta "identidade cultural" de independência, que acabaram por desempenhar um papel decisivo na formação e consolidação da nacionalidade portuguesa com o levantamento colectivo que teve o seu epilogo na batalha de S. Mamede, em 1128. Como refere o Prof. José Mattoso, (" O Castelo e a Feira", p. 160)

     

    ..." A Terra de Santa Maria pode ser considerada como um região, que, no caso de ter estabelecido uma ligação preferencial a Coimbra, deveria, teoricamente, ter inviabilizado a construção de um novo Reino. Em vez disso, associando-se a Portucale e garantindo o seu prolongamento em direcção à mesma cidade de Coimbra, acabou por constituir o elo de ligação com ela."

     

    Por tudo isto, bem pode dizer-se que a Terra de Santa Maria é a TERRA MÃE DE PORTUGAL.

  • Na época medieval

    A Terra de Santa Maria sempre constituiu uma região de fronteira: fosse diretamente, durante a reconquista de Coimbra aos muçulmanos, fosse indiretamente quando após o limite da Reconquista se desloca para sul, e a esta região passa a albergar Cavaleiros que participavam na reconquista. Durante os Séculos XI e XII, até à conquista de Lisboa, participavam nas lutas contra os Mouros, e estabeleciam-se na zona, comprando terrenos e casais a camponeses de modo a alargar os seus domínios.

     

    Durante os tempos seguintes, a região serviu para criar uma ligação entre dois pólos urbanos que foram surgindo: Aveiro a sul, onde se concentrava atividades de extração de sal e atividades pesqueiras, e Vila Nova de Gaia (que obteve foral a 1255) a norte, ligada à construção naval e comércio no Douro.

     

    Esta centralidade, e a abundância de recursos permitiu a fixação duma população numerosa, onde os mercadores atravessavam a região e trocavam produtos de luxo e artesanais do sul, pelos excedentes das culturas região. Há quem diga que nesta região se possa ter desenvolvido uma feira de importância tão significativa que acabou por dar o nome à terra. No entanto, o topónimo "Feira" surgiu pela primeira vez num documento de 1117, onde é referido "...in Terra de Sancta Maria, ubi vocant Feira..." cujo significado será "onde chamam Feira" e não "onde faz a feira". A feira existente na região poderia tratar-se duma pequena feira ou mercado que teria lugar à beira do Castelo.