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Novos Paradigmas

Novos Paradigmas - Debates na FEUP

O mundo está a mudar rapidamente, e a mudança só não trará consigo muito graves crises se acordarmos para a inevitabilidade da mudança e procurarmos contribuir para que seja uma mudança controlada e positiva para todos.

Desde há décadas que os cientistas sabem que o clima está a mudar e que são grandes os riscos de uma mudança descontrolada, inevitável se não se tomarem medidas eficazes em tempo oportuno.

As opiniões públicas, quer ocidentais quer orientais, formadas e "informadas" pelos respectivos 'media', demoraram ou têm demorado bastante mais tempo a conhecer e reconhecer esses riscos. Só depois da eleição de Obama para presidente do EUA é que este país, o maior poluidor internacional, decidiu assinar o Protocolo de Kyoto sobre as mudanças climatéricas.

Apesar da enormidade do drama das populações com fome, sem água potável, quase sem cuidados de saúde e sem serviços de educação, a consciência universal desse problema é reduzida.

A consciência social e ética e o empenhamento de um número crescente de pessoas tem levado a uma progressiva consciencialização deste e doutros problemas, sem, no entanto, ser suficiente, ainda, para alterar de forma significativa, o estado das coisas.

Do ponto de vista social, este segundo drama da sociedade de consumo em que ainda vivemos, não é menor do que o primeiro.

Estas realidades levantam preocupações e interrogações. Será que uma e outra coisa são inevitáveis e nada há a fazer para as modificar?

De facto, a sustentabilidade é incompatível com o modelo cultural e de sociedade em que temos vivido e com o aumento crescente e descontrolado da população mundial e com o seu progressivo envelhecimento. Queiramos ou não, a humanidade precisa de encontrar soluções que tornem sustentável, ambiental e socialmente, a sociedade a nível planetário.

As recentes crises financeira e monetária vieram lançar sinais de alerta. Afinal os sistemas financeiro e monetário, dois dos pilares da economia e da sociedade em que temos vivido, não são tão sólidos quanto parecia.

A rápida ascensão da China, como potência industrial, e da própria Índia e dos restantes dois BRIC (Brasil e Rússia), a sua concorrência imbatível que determinou já o encerramento de tantas unidades fabris em Portugal e em todo o mundo ocidental, já alteraram de forma quase radical o sistema de trocas internacional.

A proposta de criação de uma moeda mundial para as trocas internacionais, que substituísse as moedas nacionais, nomeadamente o dólar, ou de grupos de países, como o euro ou a libra, apresentada pelo Brasil e a Rússia, chama a atenção para a possibilidade de alternativas que, a concretizarem-se, serão autênticas revoluções no paradigma da economia mundial, com mudanças significativas dos balanços de poder a nível planetário.

Tudo isto são sinais de que a realidade envolvente não só tem que mudar como que está, de facto, a mudar, quer queiramos tomar consciência e participemos nessa mudança, quer não.

Não são fáceis as tarefas de mudar realidades mundiais dramáticas ou com riscos potencialmente catastróficos. Mas as mentalidades estão a mudar e as novas tecnologias de informação e comunicação são um utensílio importantíssimo de que podemos dispor, à escala da aldeia global, para em conjunto, diferentes pessoas, de povos, raças, civilizações e credos diversos, construírem alternativas.

O falhanço do sistema comunista, por uma lado, e a incapacidade do capitalismo liberal de enfrentar e resolver, em tempo oportuno, os problemas ambientais e sociais da humanidade, mostram a necessidade de desenvolver novos modelos organizativos, governativos e funcionais à escala global.

Novas ideias e práticas, nova cultura e novos paradigmas são necessários, urgentes, mesmo.

São precisos os recursos científicos, técnicos, culturais e morais da humanidade e dos seus diferentes povos e culturas para construir alternativas benéficas para todos e não apenas para os 10% da população mundial inseridos no mercado de consumo.

As alternativas necessárias exigem e implicam novos paradigmas.

Serão necessárias múltiplas reflexões e debates, muita investigação e trabalho de equipas pluridisciplinares e multiculturais, muita imaginação e realismo para ir descobrindo e implantando novas formas organizativas, novos modelos económicos, sociais e culturais que permitam ir alcançando resultados minimamente satisfatórios para todos, incluindo os que hoje são a grande massa dos excluídos da sociedade, a nível local e planetário.

O mundo em que os jovens de hoje, incluindo os estudantes da nossa faculdade e da UP, irão viver e exercer as suas actividades profissionais e a sua cidadania, será dentro de poucas décadas, bem diferente do de hoje. Importa que os jovens e, mais geralmente, os vivos de hoje, se realizem contribuindo para um mundo mais pacífico, mais justo, mais ergonómico e sustentável, e se preparem para o continuar a construir ao longo das suas vidas de forma efectiva e eficiente.

Não é por acaso que, no relatório para o Global Summit da ASME (American Society of Mechanical Engineers), sobre "The Future of Mechanical Engineering", realizado em Washington em Abril de 2008 se diz que:

"By 2028, globalization and new business models will increasingly drive the development of mechanical engineering projects that serve the poorest 90 percent of humanity – the four billion people who live on less than $2 a day."

Esta afirmação é o reconhecimento do papel importantíssimo que a Engenharia tem na construção de um mundo novo, em que os 90% da população mundial actualmente pobre e marginalizada passem a ser incluídos e se tornem, efectivamente, parte da sociedade e da economia mundiais.

A questão que se põe, neste tempo de mudança, é saber se queremos e nos preparamos para darmos, nós também, o nosso contributo para a mudança, ou se preferimos continuar alheios às realidades e deixar ao acaso ou a outros as decisões quanto ao futuro. Para os subscritores deste documento o alheamento só contribuirá para aumentar os riscos de graves crises e de mudanças descontroladas, eventualmente em benefício de apenas alguns, como sempre aconteceu no passado, mas sem nós sermos sequer parte desses alguns. Daí a importância de tomarmos consciência das realidades e das mudanças já em curso e assumir a nossa participação no desenho e construção do futuro.

 

Julho de 2010