a Ideia

  

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 


No artigo que publicou no número de Março de 1878 de ÒO InstitutoÓ, intitulado ''A Telefonia, a Telegrafia e a Telescopia'', o Prof. Adriano de Paiva apresentou as suas reflexões.

Perante o aparecimento do telefone magneto-eléctrico de Graham Bell inventado em 1876, perante os factos técnicos recentes ligados à comunicação da voz entre duas pessoas colocadas em lugares afastados, e perante o conhecimento das funções dos sentidos nos seres humanos, o Prof. Adriano de Paiva desenvolveu a ideia sobre a visão dos objectos à distância - a telescopia - como uma nova aplicação da electricidade.

O artigo, que é acompanhado de algumas notas de rodapé importantes, apresenta uma primeira reflexão:

"O que portanto entendemos dever saudar principalmente no telefone Bell, bem como nos ensaios que o precederam, não é a descoberta de novos telégrafos, os chamados telégrafos falantes; é sim uma aplicação, nunca antes feita, da electricidade, é a criação da telefonia eléctrica.
Desde que as considerações precedentes se desenharam claras ao nosso espírito, para logo nos quis parecer que uma nova descoberta científica se anunciava para breve; seria a aplicação da electricidade à telescopia, ou a criação da telescopia eléctrica."

Depois descreve a realização deste sistema, e verificando que o telefone desloca o ouvido do utilizador até ao ponto onde é originado o som, porque aí transforma as vibrações em variações da corrente eléctrica, acrescenta:

tal se nos afigurava dever ser o mecanismo no telescópio que antevíamos. Uma câmara escura, colocada no ponto que houvesse de ser sujeito às observações, representaria, por assim dizer, a câmara ocular. Sobre uma placa, situada no fundo dessa câmara iria desenhar-se a imagem dos objectos exteriores, com as suas cores respectivas e acidentes particulares de iluminação, afectando assim diversamente as diversas regiões da placa. Tornava-se por tanto apenas necessário descobrir o meio de operar a transformação por nenhuma forma impossível, desta energia, absorvida pela placa, em correntes eléctricas, que em seguida recompuzessem a imagem."

O autor além de descrever alguns aspectos do modo como decorreram os seus trabalhos, continua as suas reflexões e escreve:

"É diremos que as experiências que tencionávamos realizar, e que ainda procuraremos levar a cabo, consistiam em ensaiar o emprego do selénio como placa sensível da câmara escura do telectroscópio. Este corpo, com efeito, goza de uma notável propriedade, cuja descoberta é de data muito recente. Quando interposto em um circuito eléctrico que passa em um galvanómetro, faz desviar sensivelmente a agulha deste, todas as vezes que um fascículo luminoso vem incidir sobre ele, e demais este desvio é diverso sob a influência das radiações de diferente cor."

Esta constitui, sem dúvida, a parte mais importante do artigo, pois é novidade em Fevereiro de 1878 a utilização do selénio como sensor num sistema de captação da imagem de um objecto afastado. Anteriormente, o selénio apenas tinha sido utilizado por Werner Siemens (1876) na construção de um fotómetro e de um aparelho de demonstração.


Manuel Vaz Guedes
Setembro-1998